O ex-presidente afirma que foi uma tentativa de matá-lo enquanto as facções governantes do partido socialista lutam pelo poder antes das eleições de 2025.
O ex-presidente boliviano Evo Morales disse que tiros foram disparados contra seu veículo no domingo, em meio ao aumento das tensões políticas dentro das facções do partido socialista no poder. Morales e o seu ex-ministro da Economia e actual presidente, Luis Arce, estão envolvidos numa luta pelo poder antes das eleições do próximo ano.
Em entrevista à rádio, Morales disse que dois veículos o interceptaram na rodovia e atiraram contra seu carro, afirmando que uma bala passou “centímetros” de sua cabeça. “Não sei se eram soldados ou policiais”, disse Morales.
E acrescentou: “Isso foi planejado. “A ideia era matar Evo.”
Morales, o primeiro presidente indígena da Bolívia, postou no Facebook um vídeo tirado de dentro de seu carro em movimento. O vídeo o mostra sentado no banco do passageiro dianteiro e revela pelo menos dois buracos de bala no para-brisa. O motorista parecia ferido, embora continuasse dirigindo o veículo.
O vice-ministro da Segurança, Roberto Ríos, disse que o governo investigará o suposto ataque a Morales e acrescentou que a polícia “não realizou nenhuma operação” contra o ex-presidente.
“Como autoridades responsáveis pela segurança do Estado, somos obrigados a investigar qualquer denúncia, seja verdadeira ou falsa”, disse Ríos.
O incidente de domingo ocorre em meio a tensões crescentes com apoiadores de Morales bloqueando estradas no centro da Bolívia e forças de segurança e policiais tentando liberá-las. A situação corre o risco de provocar mais agitação numa nação que já enfrenta uma crise económica.
No sábado, o governo criticou o ex-presidente por “desestabilizar” o país com duas semanas de bloqueios de estradas que interromperam o abastecimento de alimentos e combustíveis em todo o país. O governo alegou que estava tentando “perturbar a ordem democrática”.
Num comunicado, o governo também afirmou que alguns grupos aliados de Morales estavam armados e alertou para uma possível violência, salientando que 14 polícias ficaram feridos ao tentarem romper os bloqueios.
Pelo menos 44 manifestantes foram presos na sexta-feira, quando mais de 1.700 policiais foram mobilizados para desmontar bloqueios de estradas. Segundo o governo, quatorze policiais ficaram feridos.
Morales, de 65 anos, que ocupou o cargo de 2006 a 2019, é o principal adversário de Arce, de 61 anos. Ambos pertencem ao mesmo partido Movimento ao Socialismo (MAS). Mas os dois líderes entraram em confronto durante o ano passado, como parte de uma luta pelo poder antes das eleições presidenciais de 2025.
O país também enfrenta a diminuição da produção de gás, o esgotamento das reservas cambiais e o aumento da inflação, aumentando a pressão sobre o partido no poder e aumentando as lutas políticas internas.
Morales também enfrenta acusações de ter se relacionado com menores. Ele foi formalmente convocado pelos promotores regionais para testemunhar no caso, mas não compareceu e agora enfrenta um mandado de prisão.
Morales nega veementemente as acusações. Ele descreveu a investigação contra ele como “mais uma mentira” e afirma ser vítima de uma perseguição judicial liderada pelo governo.