Kaïs Saïed tomou posse na segunda-feira para um segundo mandato como presidente da Tunísia. Como esperado, foi reeleito com mais de 90% dos votos e uma taxa de participação inferior a 30%. Para garantir a vitória nas eleições de 6 de Outubro, o presidente tentou reprimir a dissidência e limitar ao máximo os seus oponentes.
Segundo dados oficiais, Saïed atingiu 90,69%, enquanto os outros dois candidatos autorizados a concorrer ficaram muito atrás: Ayachi Zammel, que está preso, obteve 7,35%, e Zouhair Maghzaoui não ultrapassou 1,97%.
Especializado em Direito Constitucional e advogado de profissão, Saïed surgiu em 2019 como estranho da política, concorreu como independente e venceu as eleições. Em meados de 2021, declarou o estado de emergência, demitiu o primeiro-ministro, suspendeu o Parlamento e reescreveu a Constituição para lhe servir.
Esta foi a terceira eleição presidencial desde os protestos que levaram à derrubada de Ben Ali, em janeiro de 2011. No poder desde 1987, o ditador fugiu com a mulher e os filhos para a Arábia Saudita, onde morreria em 2019. A sua derrubada foi o culminar da a chamada Revolução de Jasmim, que serviu de gatilho para a Primavera Árabe, durante a qual também foram depostos os então líderes da Líbia, Egipto e Iémen.
Para muitos, com o bastão aplicado em 2021, Saïed pôs fim ao sonho e projeto democrático que havia surgido uma década antes no país. Em entrevista ao Expresso, a cientista política franco-tunisina Nadia Marzouki descreve o regime como “uma combinação de fraqueza e megalomania”.