O Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) arrecada perto de 600 milhões de euros por ano em taxas de registo. Estas taxas foram canalizadas, ilegalmente, para financiar o orçamento do Ministério da Justiça em 60%, em vez de serem atribuídas ao investimento de que o sector fonográfico tão desesperadamente necessita.
Assim, as taxas de registo pagas pelos cidadãos e pelas empresas não se destinaram a benefício próprio, mas serviram para financiar o funcionamento de diversas entidades que nada têm a ver com registos, no âmbito do próprio Ministério da Justiça.
Agora é a altura de os cidadãos e empresas que pagam taxas de registo verem o retorno desse pagamento na qualidade e rapidez dos serviços que o IRN presta.
Além disso, a crónica falta de investimento no sector fonográfico e a incapacidade de resolver os seus problemas estruturais – como a enorme falta de recursos humanos, as instalações inadequadas para o serviço prestado e a falta de motivação dos profissionais por não reconhecerem os seus direitos remuneratórios ( assimetrias salariais, gratificações por insucesso, atualização do índice e promoção a administrador sênior): estão matando a galinha dos ovos de ouro, que já está muito depenada! É incompreensível não investir num setor essencial à vida da sociedade tal como a conhecemos, mas sobretudo se tivermos em conta que cada euro de investimento renderá centenas de euros.
O recente ciberataque sofrido pela Agência de Modernização Administrativa (AMA) teve impacto direto nos serviços que o IRN presta nos canais online, ou seja, propriedade online, automóvel online e serviço civil online, nos quais não é possível efetuar registo pedidos. e certificados, exceto atos livres ou isentos.
O IRN depende da Agência de Modernização Administrativa e do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ), em termos informáticos e aplicacionais, pagando avultadas quantias às referidas entidades por serviços que estas não prestam, pelo que deverá dispor de um sistema informático. Departamento para lhe dar autonomia neste assunto. Ao longo do tempo foi-se provando que, nomeadamente, o IGFEJ não dá resposta aos problemas que surgem nas aplicações e sistemas informáticos, pelo que o valor que o IRN é obrigado a pagar-lhe não tem qualquer tipo de reembolso, o que. precisa ser corrigido urgentemente.
Destas limitações, hoje todos nos concentramos numa antiga, que tem a ver com a enorme falta de Registradores e Oficiais de Registo e os consequentes impactos negativos. No momento actual, não podemos todos, enquanto sociedade, deixar de nos preocupar com o futuro, especialmente no curto e médio prazo, dada a falta, segundo dados oficiais, de 242 Conservadores e 1.691 Oficiais de Registo.
Contudo, segundo dados da Caixa Geral de Aposentações (CGA), de Janeiro até ao presente, reformaram-se 148 profissionais, dos quais 11 Registradores e 137 Oficiais de Registo, o que aumenta o número referido no número anterior.
A média de aposentados por mês em 2024 é superior a 16 profissionais, demonstrando claramente um aumento a cada ano que passa. Só em 2024, mais de 200 profissionais irão se aposentar;
O anterior Governo abriu um concurso externo em junho de 2023 para o preenchimento de 50 cargos de Conservador e 240 de Oficial de Registo, anunciando que no final de 2023 estes profissionais estariam a trabalhar em Notários. Ora, tal mentira foi desmascarada pela realidade que a passagem do tempo trouxe.
Como sempre avisei, na melhor das hipóteses, os novos Conservadores só estarão a trabalhar nos Conservatórios no segundo semestre de 2025 e os novos Conservadores no final do segundo trimestre de 2026.
O número de Registradores e Oficiais de Registro que se prevê contratar é insuficiente face às necessidades exigidas pelos cidadãos e pelas empresas, e não cobrirá sequer as reformas que ocorrerão a partir da abertura do concurso -junho de 2023- até à entrada em funções dos novos profissionais. os Cartórios. Nessa altura, o défice crónico será maior do que o que existe agora (resultado de mais de 24 anos sem entrada de novos profissionais), tendo-se perdido um tempo precioso que poderá colocar o sector num perigoso ponto sem volta.
E o atual Governo? O que você vai fazer?
Parece-me claro que tem de dar um sinal muito claro no sentido da revitalização de um sector que está a morrer.
Para tal, e tendo em conta o tempo que ainda irá decorrer até à entrada dos novos Conservadores e Oficiais de Registo nos Registos – e as reformas continuarão a aumentar exponencialmente – o Ministro da Justiça e o Secretário de Estado da Justiça não podem deixar de aumentar, doravante, o número previsto para a contratação de novos Registradores e Oficiais de Registro para, pelo menos, cobrir todas as aposentadorias ocorridas desde 2022 e que deverão ocorrer até o final de 2025, acrescido de 10% para cobrir o déficit crônico acumulado.
Este cenário irá agravar-se muito num futuro próximo, pelo que a decisão tomada será decisiva e deve, por isso, ser tomada com bom senso para que o sector fonográfico possa responder às necessidades dos cidadãos e das empresas, bem como para poder desempenhar eficazmente o seu papel essencial, indispensável e insubstituível na garantia da segurança e certeza jurídica, da paz social e da coesão territorial, bem como na dinamização da própria economia!